O Aproveitamento Hidroeléctrico da Matala, na Huíla, construído em 1958, será reinaugurado nesta sexta-feira, com um moderno sistema digital de supervisão, controlo da produção e da distribuição de energia eléctrica, no quadro da substituição dos equipamentos da central e da rede pública da vila.
O investimento na renovação da maquinaria custou ao Executivo angolano mais de 106 milhões de euros, e permitiu, até agora, concretizar mais 2.700 novas ligações domiciliares.
Em declarações à Angop, o presidente do Conselho de Administração da Empresa de Produção de Electricidade (PRODEL), Pedro Afonso, fez saber que esse investimento enquadra-se no plano definido do Governo para a melhoria da qualidade de vida da população, em que a reabilitação de infra-estruturas de produção de electricidade é parte importante.
Lembrou também que desde a entrada em funcionamento da barragem, há 66 anos (o que, presume-se, aconteceu antes de o MPLA chegar ao Poder…), que não beneficiou de obras profundas de substituição dos equipamentos, como as que terminaram recentemente.
Segundo o gestor, três novas turbinas estão a funcionar em conjunto e a produzir 24 mega-watts, mas a potência instalada na central da Matala é de 51, ou seja, 21 a mais do que a capacidade produtiva anterior e em função do que o sistema vai demandar, os operadores vão gerindo com a activação ou desactivação de uma das máquinas.
“Estão as três unidades geradoras a funcionar em pleno e que foram totalmente reabilitadas. A terceira turbina apresentava, antes das obras, fortes vibrações, um assunto que foi totalmente ultrapassado. Para além das turbinas, foi reabilitado o sistema de supervisão e controlo, pelo que os técnicos estão agora aptos a identificar facilmente as várias ocorrências”, frisou.
Pedro Afonso salientou que as obras beneficiaram, igualmente, o sistema de extinção e combate a incêndios, foram também melhorados os sistemas de serviços auxiliares, ou seja em caso de uma interrupção, a recuperação da central será muito mais fácil.
O nível de tensão, disse o PCA, vai ser elevado para garantir o seu escoamento para os pontos mais distantes, como é o caso do Quipungo, Lubango, Namibe e a aldeia de Candjanguite (Matala).
A sua subestação, conforme referiu a fonte, também foi renovada no quadro do projecto de interligação da linha Centro e Sul, uma acção que a Rede Nacional de Transporte (RNT) já está a tratar, o que vai dar a Huíla um sistema “mais robusto”.
Fruto do investimento do Governo, Pedro Afonso sinalizou a região Sul ganha a sua segunda estrutura de energia limpa, depois da central fotovoltaica de Caraculo, na província do Namibe.
De acordo com os estudos desenvolvidos pela Empresa Nacional de Electricidade (ENDE-EP) e especialistas do Ministério das Minas e Energia Águas deve ser implementado um aumento na capacidade de geração de energia de aproximadamente 100 MW, através da reabilitação e expansão da rede de transporte e da capacidade de geração instalada em 1959.
As obras de reabilitação da infra-estrutura física da barragem tiveram início em Agosto de 2010, terminaram em Março de 2015. Custaram 225 milhões de euros. As de substituição do equipamento, incluindo as turbinas, começaram há três anos e custaram mais de 106 milhões de euros.
A Matala é vila e sede do município com o mesmo nome da província da Huíla, tem uma população estimada em 355.456 habitantes.
É limitada a Norte pelo município de Chicomba, a Este pelos municípios da Jamba e Cuvelai (Cunene), a Sul pelos municípios de Ombadja e Cahama (Cunene), e a Oeste pelos municípios dos Gambos, Quipungo e Caluquembe. É constituído pelas comunas da Matala, Capelongo e Mulondo.
A sua importância deve-se à sua barragem, que fornece energia eléctrica não só para a província da Huíla como também para a do Namibe, e fornece água para as suas famosas explorações agro-pecuárias.
O seu principal factor de desenvolvimento económico é o perímetro irrigado da Matala, o maior do país com um canal de 42 quilómetros que abastece 10.700 hectares, foi implantado em 1953, situa-se na margem direita do rio Cunene, a jusante da barragem e da cidade do mesmo nome, que dista 180 km a Leste da cidade do Lubango.
O perímetro irrigado é alimentado a partir de um canal que se estende desde a barragem até a área de Mucope, que fica ao sul de Capelongo. O canal possui uma profundidade de 1,20 m no término e 3,3 m de largura.
Recorde-se que, em 2018, o antigo Presidente do Conselho de Administração da Sociedade de Desenvolvimento Agrícola da Matala (SODEMAT), Luís Arsénio Salvaterra dos Santos, foi detido, juntamente com outros três administradores, acusados do crime de peculato. O antigo PCA ocupou também o cargo de director da agricultura e desenvolvimento rural, nos consulados de Dumilde Rangel, Kundi Paihama e Ramos da Cruz.
De acordo com o sub-procurador-geral da República na província da Huíla, Hernâni Beira Grande, os detidos foram acusados de terem desviado 3,2 milhões de euros. Os acusados estiveram à frente da gestão da SODEMAT no período entre 2006 e 2012 e foram visados pelo alegado desvio de quatro milhões de dólares (3,2 milhões de euros).
O sub-procurador-geral da República explicou na altura que “competia ao conselho de administração gerir todos os negócios sociais, efectuar as operações relativas à materialização do objecto social, dentro dos limites legais e da escritura da sociedade”, o que “não veio a acontecer”.
“Por isso, os valores acabaram por ser utilizados indevidamente em benefício dos arguidos, razão da existência desse processo-crime”, apontou Hernâni Beira Grande.
O perímetro irrigado da Matala, uma área agrícola com sete mil hectares de terra arável na província da Huíla, foi invadida desde meados de 2006 por construções anárquicas, denunciou em 13 de Dezembro de 2006 o administrador do município, Manuel Capenda.
Gerido pela SODEMAT, o perímetro possui seis mil hectares de terra para produção agrícola e mil especificamente para multiplicação de sementes. O administrador fez saber que por debaixo das novas construções anárquicas estavam cabos de alta tensão, já que a área está localizada nas imediações da Central Eléctrica da Barragem da Matala, o que representava um grande perigo.
Manuel Capenda, que não fez referência ao número de casas já construídas e que medidas a administração vai tomar, denunciou igualmente a existência de grupos de indivíduos não identificados que sabotam equipamentos no zona do perímetro irrigado.
Um dos 14 municípios da Huíla, a Matala, registou em 2008 movimentações descritas como fazendo parte dos planos do governo central e provincial para fazer da zona um “pólo de desenvolvimento”, um dos únicos na região sul do país.
A Matala ganhava vantagem perante outros municípios da província e mesmo da região devido a factores estratégicos que começaram a ser reunidos desde o tempo colonial, alguns dos quais relançados na segunda metade da década de noventa, depois de anos de abandono devido à guerra
Eis alguns dos pontos que deram vantagens à Matala. Nunca foi ocupada pela guerrilha, tendo inclusive servido de posto avançado do comando da Região Sul das Forças Armadas Angolanas. Ai estava colocado do COP – Huíla, o comando operacional, tendo uma base logística própria com estruturas, transportes, pessoal e linha de orientação.
Possuía um dos melhores aeródromos no interior da região (Namibe, Huíla, Cunene e Cuando Cubango), aqui perdendo apelas para Mavinga, Cuito Cuanavale e Jamba.
Tinha e tem um clima propício à produção de várias espécies agrícolas, com destaque para cereais e citrinos. Teve durante muitos anos uma indústria transformadora de tomate para conservas. Zonas como Capelongo e “Castanheira de Pêra” continuam a ser importantes áreas de produção agrícola.
Possui um dos maiores e mais cobiçados (por fazendeiros com conexões ao poder) caudais de irrigação de Angola.
Possui a estratégica barragem da Matala. A sua estrutura de apoio incluiu expatriados de várias origem, com destaque para brasileiros, russos e portugueses, animando a economia local. Muitos dos expatriados vivem na zona anos a fio sem se deslocarem para as suas zonas de origem.
Beneficiou da criação de uma estrutura orgânica própria para a gestão do município, em paralelo à própria frágil administração municipal. A SODEMAT teve como gestor Sabino Ferraz, um economista que foi assessor do presidente da República. Terá sido por sua sugestão que em 2001, no auge do conflito armando em Angola, o chefe de Estado, José Eduardo dos Santos, reunião o Conselho de Ministros na Matala, naquilo que se chamou de “Presidência Aberta”. Foi uma das raras vezes em que este órgão se reuniu fora de Luanda.